Despedida (Ou como virei cabide e ninguém me avisou!)

Acordei com aquela sensação estranha de estar cada vez mais só. Sabe aquela impressão de que você está se transformando na pessoa invisível da casa? Pois é, parei pra pensar e me dei conta: me afastei. Mas por quê?Lembrei do ditado do meu pai: "Quem não é visto, não é lembrado." E olha, ele estava certo. Ultimamente, tenho acordado com a sensação de que fui roubada. Roubada do direito de pertencer, de ser útil.Quando criança, eu era o motivo das brigas. Para evitar confusão, me escondia e não queria ser notada. Virei um cabide humano. Sim, você leu certo. Eu era o cabide da minha mãe, do meu irmão e do meu pai. Eles jogavam as roupas em cima de mim, e eu guardava tudo sem reclamar.Com o tempo, virei uma expert em guardar e organizar sem dar um pio. Mas aí, a culpa bateu. "Não é normal, devo ter feito algo errado", pensava eu. Meus pais se foram, meus netos cresceram, e agora me pego querendo ser útil.Hoje, sinto falta das roupas que guardei. Porque, surpresa, surpresa, todos aprenderam a guardar suas próprias roupas e as gavetas estão entulhadas de coisas que nem imaginava.Ah, como eu queria ser lembrada, nem que fosse como aquele velho cabide que um dia fez a diferença!

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